Muitas vezes confundida com verrugas simples, a Papilomatose é uma infecção viral caracterizada pela formação de papilomas, que são lesões benignas, geralmente verrucosas. Isso é o que explica a médica-veterinária especializada em Odontologia e Oncologia veterinária do Hospital Veterinário Taquaral, Clarisse Teixeira.
“Nos pets a doença ocorre pela infecção por diferentes tipos de papilomavírus, que pertecem à família Papillomaviridae, um grupo com tropismo pelo epitélio cutâneo e mucoso”, cita.
De acordo com a profissional, embora seja mais comum em cães, a enfermidade também pode acometer gatos, mesmo que de forma mais rara. Contudo, a Papilomatose é causada por papilomavírus específicos de cada espécie.
“Nos cães o agente etiológico mais recorrente é o canine oral papillomavirus (COPV). Já nos gatos, tipos menos caracterizados de feline papillomavirus estão envolvidos”, cita.
Além disso, a enfermidade pode apresentar predisposição etária e racial. Teixeira cita que é vista com maior frequência em cães jovens, geralmente com menos de dois anos de idade devido ao sistema imunológico ainda imaturo, mas também pode acometer idosos e imunossuprimidos.
“Com relação a predisposição racial, algumas raças são mais susceptíveis, embora isso não seja estritamente comprovado. Há relatos mais frequentes em cães cocker spaniel, pug, schnauzer e golden retriever”, complementa.
Como a doença se manifesta?
Clarisse afirma que a transmissão da Papilomatose ocorre, principalmente, por contato direto entre animais ou objetos contaminados.
“Após a inoculação do vírus há um período de incubação que pode variar de semanas a meses. Nesse período o vírus se multiplica nas camadas basais da epiderme e a replicação viral leva à proliferação desordenada das células epiteliais, resultando no crescimento de lesões papilomatosas”, explica.
Ainda segundo ela, as lesões podem se apresentar de forma única ou múltipla e variam em tamanho e forma. Sua aparência é similar à de uma couve-flor, tendo superfície rugosa e coloração que varia entre rosa e branco-acinzentado.
Nos cães as lesões costumam aparecer na cavidade oral, especialmente em lábios, língua, gengiva e palato, mas também podem surgir nas pálpebras, conjuntiva e regiões cutâneas.
“Por outro lado, nos felinos a papilomatose cutânea é menos comum e as lesões são frequentemente associadas a outras condições, como infecção por FeLV ou FIV, que comprometem a imunidade. Existem também relatos de transformação maligna de papilomas felinos em carcinomas espinocelulares, especialmente em áreas de exposição solar, o que ressalta a importância de monitoramento clínico”, pontua.
Além disso, de um modo geral, essa é uma infecção autolimitante com regressão espontânea das lesões após semanas ou poucos meses quando o sistema imune do animal monta uma resposta efetiva. No entanto, em animais imunossuprimidos, as lesões podem persistir e crescer, tornando-se mais extensas.

Avaliação clínica é crucial para diagnostico
Segundo a médica-veterinária, o diagnóstico da Papilomatose em animais é, na maioria dos casos, clínico e baseado na observação das lesões características — verrugas com aspecto de couve-flor.
No entanto, se houver persistência dos sintomas ou suspeita de outras doenças é possível utilizar alguns exames para confirmar ou não a presença da enfermidade.
“O histopatológico é o principal exame auxiliar. Ele permite a avaliação microscópica do tecido, revelando alterações típicas do papilomavírus, como hiperplasia epitelial e presença de coilócitos (células com alterações nucleares características da infecção viral). Esse exame é especialmente útil para diferenciar papilomas de outras lesões cutâneas, como tumores malignos”, cita.
Teixeira também complementa que existem exames laboratoriais mais específicos para diagnóstico, como a reação em cadeia da polimerase (PCR), que pode identificar o DNA do papilomavírus no tecido. “Esse método é muito sensível e específico, sendo indicado principalmente em casos atípicos, lesões persistentes ou para fins de pesquisa”, pontua.
O raspado da lesão para citologia é mais uma alternativa, porém não consegue distinguir com precisão os papilomas de outras formações cutâneas.
E o tratamento?
Para definir qual será o tratamento da Papilomatose Clarisse comenta que é preciso avaliar a gravidade, número e localização das lesões, bem como do estado imunológico do animal.
“Na maioria dos casos, o tratamento não é necessário, pois as lesões costumam regredir espontaneamente dentro de quatro a oito semanas à medida que o sistema imunológico desenvolve resposta contra o vírus”, afirma.
Contudo, quando existem lesões extensas, persistentes, ulceradas e que causam desconforto ou afetam a alimentação, o tratamento pode ser indicado.
“Nessas situações existem diferentes abordagens, desde tratamento sintomático e cirúrgico até o uso de medicações específicas com efeito antiviral ou imunomodulador. A cirurgia é indicada para lesões únicas ou muito grandes, que podem ser removidas por excisão cirúrgica, crioterapia (congelamento com nitrogênio líquido) ou eletrocauterização” cita.
Dentre os imunomodulares a profissional cita o Interferon (alfa ou recombinante canino) e o Imiquimode. O Interferon pode ser usado para estimular a resposta imunológica, principalmente em casos graves ou recorrentes, enquanto o Imiquimode é uma pomada com ação imunomoduladora e antiviral.
Já a fitoterapia com Tintura de Thuya occidentalis (ou extrato homeopático) é frequentemente usada como coadjuvante no tratamento da papilomatose. Ela tem o objetivo de estimular o sistema imunológico e favorecer a regressão das verrugas.
“A fitoterapia é aplicada topicamente sobre as lesões ou administrada por via oral, conforme orientação do veterinário. Apesar de seu uso tradicional e relatos empíricos de eficácia, a evidência científica ainda é limitada, sendo mais comum na prática da Medicina Veterinária integrativa ou homeopática”, relata.
A especialista ainda pontua que quando não há intervenção, os papilomas regridem espontaneamente em um a três meses. No entanto, com tratamento a recuperação pode ser mais rápida, especialmente se houver remoção cirúrgica ou estímulo imunológico eficaz.
Mesmo assim podem existir recidivas, por mais que sejam relativamente incomuns em animais com sistema imune competente.
“Em muitos casos, especialmente em cães jovens, a infecção desaparece completamente após a regressão espontânea das lesões ou com o tratamento e o animal desenvolve imunidade específica ao subtipo do papilomavírus que causou a infecção. No entanto, essa imunidade não é necessariamente protetora contra todos os subtipos virais, o que significa que o animal pode, no futuro, se infectar com um diferente tipo de papilomavírus e desenvolver novas lesões”, finaliza.
FAQ sobre a Papilomatose
Quais os diagnósticos diferenciais para suspeitas de Papilomatose?
Os diagnósticos diferenciais da Papilomatose canina e felina incluem doenças que podem causar lesões cutâneas ou orais, que se assemelham visualmente a verrugas, nódulos ou massas. Dentre elas estão hiperplasia gengival, carcinoma de células escamosas, melanoma oral e mastocitoma cutâneo.
Como ocorre a transmissão da Papilomatose?
Basicamente, a transmissão da Papilomatose acontece por contato direto com animais infectados ou com ambientes e objetos contaminados pelo vírus. Normalmente o agente entra no organismo através de microlesões na pele ou mucosas, como pequenas feridas na boca, gengivas, focinho ou pele.
Existem maneiras de prevenir a Papilomatose?
Como não existe nenhuma vacina para a doença, a sua prevenção ocorre a partir de medidas de manejo e cuidados com a imunidade do animal. Com isso, a principal forma de prevenção é evitar a exposição de animais suscetíveis, principalmente filhotes e imunossuprimidos, a ambientes onde o papilomavírus possa estar presente.
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