Seu gato parou de comer a ração que gostava e estava acostumado de repente? Você já tentou diversas opções, mas ele não aceita nenhum alimento nem petiscos? Então, é hora de procurar um médico-veterinário, porque seja paladar exigente ou anorexia, os felinos podem ter alguns problemas graves de saúde!
A médica-veterinária especializada em Felinos do Nouvet, Isabelle Guimarães, explica que o paladar seletivo e a anorexia em gatos são quadros diferentes, embora os comportamentos possam ser parecidos.
“O gato com paladar seletivo é saudável, mas recusa certos alimentos ou marcas específicas e tende a comer bem quando é oferecido algo que ele goste. Já a anorexia felina pode ocorrer por um motivo clínico ou emocional. Ambos os acontecimentos são sinais de alerta, pois o gato é considerado uma espécie que não pode ficar longos períodos sem se alimentar”, destaca.
Mas como distinguir paladar seletivo e quadros anoréxicos? “Se o gato come bem quando é ofertado algo que ele goste, então ele tem paladar seletivo, já quando o gato não come nada, até mesmo o que ele gosta, isso é sinal de anorexia”, revela.
De acordo com Isabelle, felinos com alguns quadros como dores crônicas, como disfunção cognitiva em gatos idosos, dor orofacial e desconforto para apreender e mastigar a ração; doenças sistêmicas, como DRC e pancreatite; doenças hepáticas; hipertireoidismo, diabetes mellitus, infecções virais, como Fiv e Felv, entre outros incapacitam o felino de se alimentar adequadamente.
Então, se já há o diagnóstico de algum desses quadros, o tutor deve ter atenção redobrada à alimentação desse gato.
Indícios a serem observados
Segundo Isabelle, alguns sinais podem ser observados pelos tutores quando o gato possui paladar exigente.
“Escutar o barulho do pacote de ração, sachê ou petisco preferido ser aberto e vir rapidamente, é um pet ativo, saudável, interage normalmente com as pessoas da casa, possui um peso estável e utiliza a caixa sanitária, normalmente, são indicativos de que o gato possui paladar exigente. Porém, se houver recusa prolongada do alimento, cerca de 24 a 48h no máximo, é indicativo de anorexia e um veterinário deve ser buscado rapidamente. A anorexia felina pode se confundir com ‘manha’ e evoluir rapidamente para um estado de catabolismo e culminar com a lipidose hepática felina”, alerta.
O tutor deve se preocupar ainda mais se houver perda de peso visível ou comprovada, já que a seletividade, segundo a veterinária, pode estar mascarando a hiporexia, ou baixa ingestão alimentar; rejeição até dos alimentos preferidos; quando a seletividade vier acompanhada de mudanças comportamentais no ambiente ou rotina envolvendo o estresse.
Ela lembra que os gatos são extremamente sensíveis a qualquer mudança, seja ela de ambiente ou rotina.
“Portanto, não é recomendado fazer qualquer mudança brusca, de ração, substrato sanitário, móveis, objetos de decoração da casa, etc. Um exemplo prático – e muito comum nas rotinas – é aquele tutor que muda o comedouro que o gato estava habituado há anos e o pet passa a desenvolver um paladar seletivo, não pela ração propriamente dita, mas por não estar onde estava acostumado a se alimentar diariamente”, exemplifica e salienta “Quando um gato para de comer não é simplesmente ‘birra’, é algo que sempre digo nos meus atendimentos, é um sinal de que algo está errado e deve ser investigado”.
Pets vulneráveis
A médica-veterinária informa que o jejum prolongado é mais perigoso para gatos do que para cães, porque o metabolismo dos felinos é altamente dependente de proteínas.
“Gatos são estritamente carnívoros, ou seja, seu organismo depende da proteína para garantir o funcionamento dos órgãos. Mesmo em jejum, o corpo do gato continua degradando proteínas corporais, no caso, músculos, para produzir energia, o que leva à perda rápida de massa magra e desnutrição”, discorre.
Quando um gato para de comer, segundo Isabelle, o organismo passa a mobilizar gordura das reservas para gerar energia e é transportada para o fígado, que, nos gatos, têm a capacidade limitada de processá-la.
“Este acúmulo excessivo leva à lipidose hepática, uma doença grave que causa icterícia, vômitos, letargia extrema e agravamento no quadro de anorexia”, salienta.
De acordo com a profissional, gatos que possuem sobrepeso ou obesidade estão mais predispostos a desenvolver lipidose hepática após longos períodos de jejum e anorexia, isso porque a quantidade de gordura mobilizada das reservas é ainda maior e acelera o desenvolvimento da lipidose hepática.
“Enquanto um cão pode tolerar longos períodos de jejum, com o felino já é diferente. Após um período sem se alimentar, a intervenção veterinária é extremamente importante e, se a alimentação não for corrigida, o felino rapidamente perderá energia e terá sua vida em risco”, aponta.
Estratégias
Isabelle declara que os gatos são nitidamente resistentes a mudanças, no entanto, com paciência e técnica algumas estratégias podem ser adotadas para ajudar o pet a aceitar novos alimentos.
“Caso o tutor tenha optado pela troca da ração e após a orientação veterinária, é necessário realizar a troca gradual e ir misturando a antiga ração com a nova por, aproximadamente, sete a dez dias até que ele tenha se habituado. Aumentar a palatabilidade da ração ou do sachê pode ser necessário e o tutor pode acrescentar uma pequena quantidade de água morna para liberar o aroma”, sugere.
Além disso, Isabella informa que o tutor também pode fazer uso de petiscos cremosos, que ela utiliza muito em sua rotina de atendimento. “Normalmente, eles possuem 91% de umidade, o que é algo excelente para um petisco, garantindo ainda mais hidratação”, adiciona.
FAQ sobre paladar exigente e anorexia felina
Como saber se meu gato está apenas com paladar exigente ou se é anorexia?
Se o gato recusa alguns alimentos, mas come bem quando recebe o que gosta, é paladar seletivo. Já se ele para de comer completamente — até mesmo seus alimentos preferidos —, pode ser um quadro de anorexia, que exige atenção veterinária imediata.
Por que a falta de apetite em gatos é tão preocupante?
Os gatos não podem ficar longos períodos sem se alimentar. O jejum prolongado pode levar à lipidose hepática, uma doença grave e potencialmente fatal, especialmente em felinos com sobrepeso ou obesidade.
O que posso fazer se meu gato recusar a ração?
Procure orientação veterinária e evite mudanças bruscas. A troca deve ser feita gradualmente, entre sete e dez dias, misturando as rações. Pode-se usar água morna para liberar o aroma ou petiscos cremosos para estimular o apetite e aumentar a hidratação.
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