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Payroll ainda “quente” favorece discurso do Fed de manter os juros em julho

O mercado de trabalho dos Estados Unidos surpreendeu novamente para cima, com o payroll de junho apontando para a criação de 147 mil postos de trabalho, e os economistas voltaram a comentar sobre a resiliência na geração de empregos. Ainda que alguns dados comecem a apontar para uma desaceleração à frente, os especialistas disseram que […]

O mercado de trabalho dos Estados Unidos surpreendeu novamente para cima, com o payroll de junho apontando para a criação de 147 mil postos de trabalho, e os economistas voltaram a comentar sobre a resiliência na geração de empregos. Ainda que alguns dados comecem a apontar para uma desaceleração à frente, os especialistas disseram que os dados reforçam a visão do Fed sobre a economia e fortalecem o discurso pela manutenção das taxas de juros na reunião de julho. Assim, os cortes devem ser discutidos com mais intensidade em setembro.

A payroll superou a mediana das projeções, em torno de 110 mil novas vagas, mas os economistas alertaram que a maior contribuição veio do setor público, especialmente dos governos estaduais e locais, que somaram 73 mil contratações, por conta de contratações na educação, um comportamento sazonal que não deve se repetir em julho.

Já o setor privado registrou abertura de 74 mil vagas, desacelerando em relação ao resultado de maio, que registrou 137 mil vagas. “Outro ponto de atenção foi a queda de 49 mil vagas temporárias, um sinal que costuma ser interpretado como indicador antecedente da disposição do setor privado para contratar. Pode indicar um momento de maior cautela por parte das empresas, o que merece atenção nos próximos meses”, comentou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

Cruz também citou que a taxa de desemprego caiu de 4,2% para 4,1%, contrariando a expectativa de alta para 4,3%, o que mostra a resiliência no mercado de trabalho.

Mas o dado mais relevante para o Federal Reserve, segundo ele, está nos salários, que desaceleraram. “O crescimento mensal caiu de 0,4% para 0,2%, abaixo da projeção de 0,3%. Na comparação anual, os ganhos passaram de 3,9% para 3,7%”, citou.

“Essa desaceleração salarial reforça a expectativa de corte de juros pelo Fed ainda em 2024. O próprio Jerome Powell já comentou que um ritmo de crescimento em torno de 3,5% ao ano seria considerado saudável e compatível com a meta de inflação. Com os salários se aproximando desse nível, a pressão sobre os preços parece menor”, explicou.

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O economista da RB Investimentos disse acreditar que um corte de juros em setembro segue ganhando força. O CME Group já aponta 71% de probabilidade para a reunião, o que mostra que o mercado está cada vez mais convencido de que esse será o primeiro passo do ciclo de flexibilização. “A dúvida agora é se haverá um segundo corte ainda em 2024, o que dependerá da trajetória dos dados até outubro e dezembro”, ponderou.

Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, também destacou os salários, que subiram 0,2% em junho e acumulam uma alta significativa de 3,7% em 12 meses. “Com a renda ainda crescendo em ritmo forte, a tendência é de que os preços continuem pressionados, especialmente no setor de serviços, que costuma ser diretamente impactado pelo aumento dos salários”, disse.

Ela reforçou que, apesar da perspectiva de desaceleração da economia, há um risco de inflação mais alta à frente. “Esse cenário, na nossa visão, diminui o espaço para cortes de juros pelo Fed, que deve esperar sinais mais claros para definir os rumos da política monetária. Diferentemente do consenso do mercado, não descartamos a possibilidade de os juros permanecerem onde estão até o fim de 2025”, alertou.

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Leonardo Costa, economista do ASA, comentou que os dados de junho seguiram indicando um mercado de trabalho resiliente e que houve também revisão positiva nos dados anteriores (+16 mil vagas em abril e maio). Sobre o setor privado, ele citou que o saldo positivo se concentrou no setor de serviços (141 mil vagas), com leve recuo na indústria (-4 mil vagas).

“O dado de junho surpreendeu positivamente, com criação de vagas acima do esperado, queda na taxa de desemprego e desaceleração nos salários. O relatório de junho reforça a resiliência do mercado de trabalho americano. Com isso, o Fed deve manter os juros parados em julho e seguir cauteloso à espera de sinais mais claros de desaceleração”, afirmou.

Mercado robusto

André Valério, economista sênior do Inter, também considerou que o resultado de junho foi “amplamente puxado pelo setor público” e que os setores cíclicos melhoraram no mês, com a média móvel de 3 meses acelerando — puxadas pelos bons resultados do setor de construção e de lazer, que adicionaram 15 mil e 20 mil empregos respectivamente.

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“O resultado do payroll é mais uma evidência de que o Fed não deverá cortar a taxa de juros na próxima reunião de julho, independente da leitura de inflação a ser divulgada no próximo dia 15. O mercado de trabalho continua robusto, em um ambiente de difícil contratação, mas de difícil demissão, também”, explicou.

Valerio acrescentou que os números de seguro-desemprego, também divulgados hoje, continuam em patamar historicamente associado a um mercado de trabalho saudável, sem sinais de demissões generalizadas pela economia. “Até o momento não se vê sinais de impacto das tarifas sobre a economia americana, mas ainda não se pode eliminar a hipótese de que esse impacto aparecerá nos próximos meses”, disse.

“Os dados antecedentes do mercado de trabalho sugerem que haverá um impacto negativo tardio no emprego e esperamos que o cenário se torne mais claro a tempo da reunião de setembro”, previu, acrescentando que o Fed deve “pular” a reunião de novembro e voltar a cortar em dezembro, isso mantendo-se o cenário de não impacto das tarifas.

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Para Isadora Junqueira, economista da AZ Quest, o número total de junho bem mais forte que o esperado, com a média de 3 meses indo para 150 mil vagas criadas, o que o Fed considera um patamar muito sólido.

“Na parte do desemprego, a surpresa foi sair de 4,2% para 4,1%, afastando cada vez mais a chance de o Fed cortar já em julho. Agora, ficou mais claro que esse corte não vai acontecer e deve ficar para setembro”, comentou.

Infomoney – Conteúdo Original

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