A redução ou ausência de apetite em cães e gatos doentes é um dos principais motivos de preocupação por parte dos tutores e pela consequente visita ao médico veterinário. Tanto a anorexia quanto a hiporexia são condições de importante relevância clínica.
A hiporexia pode ser definida como a redução do apetite ou diminuição do consumo de alimento, enquanto a anorexia corresponde à completa ausência de apetite ou de ingestão alimentar.
Na prática clínica, especialmente nos quadros crônicos, costuma-se observar uma progressão: da seletividade alimentar para a hiporexia e, em casos sem resolução, para a anorexia.
Independentemente do estágio ou da causa, a redução prolongada no consumo de alimentos pode causar atrofia das vilosidades intestinais, comprometimento da barreira epitelial e queda da imunidade², o que reforça a importância de compreender as ferramentas disponíveis na abordagem da inapetência na rotina clínica veterinária.
O manejo da inapetência é multifatorial, devendo quando necessário combinar estratégias, desde a criação de um ambiente confortável para o paciente até o fornecimento de alimentos de alta palatabilidade, até a prescrição de estimulantes de apetite, caso não haja resposta às medidas anteriores¹.
No entanto, em ambientes hospitalares, garantir o conforto pode ser um desafio. Estudos anteriores observaram aumento significativo da temperatura, frequência respiratória, frequência cardíaca e pressão arterial em cães saudáveis ao serem levados para clínicas veterinárias, aspectos diretamente relacionados ao nível de estresse em cães e gatos³.
Pensando na melhor aceitação do alimento, o perfil dietético mais palatável para cães e gatos, em geral, envolve maior inclusão de gordura e uso de proteínas de origem animal 4,5, assim como o aumento do teor de umidade, ou mesmo maior inclusão de sal no caso dos cães. Porém, nem sempre é possível oferecer ao paciente o alimento mais desejado, pois comumente este não será o perfil dietético mais adequado em doenças específicas 6.
É nesse cenário que o uso de estimulantes de apetite, como o Cloridrato de Ciproeptadina, a Mirtazapina e a Capromorelina, podem ser interessantes no manejo hospitalar e mesmo domiciliar do paciente.
Fonte:
- DELANEY, S. J. Management of anorexia in dogs and cats. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 36, p. 1243-1249, 2006.
- BATCHELOR, D. J.; GERMAN, A. J. Anorexia and hyporexia. In: BSAVA Manual of Canine and Feline Gastroenterology. Gloucester: British Small Animal Veterinary Association, 2020. DOI: 10.22233/9781910443361-3e.8.
- BRAGG, R. F.; BENNETT, J. S.; CUMMINGS, A.; QUIMBY, J. M. Evaluation of the effects of hospital visit stress on physiologic variables in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 246, n. 2, p. 212–215, 2015. DOI: 10.2460/javma.246.2.212.
- FEDIAF – The European Pet Food Industry. Nutritional guidelines for complete and complementary pet food for cats and dogs. Brussels: FEDIAF, 2021. Disponível em: https://www.fediaf.org/self-regulation/nutrition.html. Acesso em: 5 ago. 2025.
- DUST, J. M. et al. Chemical composition, protein quality, palatability, and digestibility of alternative protein sources for dogs. Journal of Animal Science, v. 83, n. 10, p. 2414–2422, 2005. DOI: 10.2527/2005.83102414x.
- DELANEY, S. J. Management of anorexia in dogs and cats. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 36, p. 1243-1249, 2006.