Quando se fala em saúde dos rins, é comum ocorrer a associação com algumas enfermidades mais comuns, como doença renal crônica ou aguda. No entanto, uma outra patologia que pode acometer esse órgão é a doença renal policística (DRP).
De origem congênita, segundo o médico-veterinário pós-graduado em nefrologia e urologia de pequenos animais e Diretor Clínico do Centro de Nefrologia e Urologia de Pequenos Animais – Nefropet Itu, Sergio Bicalho, a DRP se caracteriza pelo aparecimento e desenvolvimento de cistos por todo o parênquima renal.
“Os cistos se formam a partir dos túbulos renais. Porém, a patogênese dessa formação não está completamente estabelecida. Até hoje o que temos são apenas hipóteses sobre a sua causa”, explica o profissional.
De acordo com ele, no decorrer da vida do animal os cistos aumentam, tanto em tamanho, quanto em número, e causam uma hipertrofia renal. Por mais que na hipertrofia ocorra uma mudança na dimensão dos rins, há redução gradativa do parênquima funcional, que culmina em insuficiência renal.
“É importante salientar que a formação de cistos nos rins pode acontecer por outras causas, que não necessariamente a presença de doença renal policística. Mesmo assim, as alterações são similares às encontradas na DRP”, comenta Bicalho.
Quais espécies são as mais acometidas?
A doença renal policística pode se desenvolver em diferentes espécies de animais. O médico-veterinário afirma que a enfermidade é descrita em vários mamíferos, mas tem maior prevalência em felinos e nos seres humanos.
“A DRP está ligada a hereditariedade, sendo uma doença autossômica dominante. Essa é uma das patologias genéticas com maior prevalência na medicina humana, sendo chamada de Doença Renal Policística Autossômica Dominante (DRPAD)”.
Por mais que a enfermidade possa se manifestar em qualquer raça de gato, algumas apresentam maior predisposição.
“Felinos de raças como persa e correlatas são os mais acometidos, mas também existe um grande número de casos em sagrado da birmânia, maine coon, sphynx, british short hair, exotic short hair e ragdoll. Entretanto, mesmo animais sem raça definida podem ter a doença”, cita.
Além disso, segundo ele, nos gatos não há predisposição etária. Porém, devido ao lento desenvolvimento dos cistos, a DRP, usualmente, costuma manifestar sintomas perto dos três anos de idade.
“Nos cães também temos relatos de doença renal policística. Nessa espécie as raças mais comuns são bull terrier, cairn terrier, west highland terrier, dálmata e yorkshire”, complementa Bicalho.
Para Sergio, outro aspecto relevante é que a DRP, geralmente, acomete os dois rins, mas em alguns casos ocorre o desenvolvimento unilateral. Falando especificamente dos gatos, é possível ver ainda a presença de cistos em outros órgãos, como fígado e pâncreas.
Sintomas estão relacionados a insuficiência renal
Os sinais clínicos da doença renal policística variam conforme a sua evolução e o crescimento e multiplicação dos cistos. “Por mais que normalmente a presença de sintomas seja notada a partir dos três anos de idade, isso depende da quantidade, do tamanho e da velocidade de crescimento dos cistos, sendo possível percebê-los em animais ainda filhotes”, afirma o médico-veterinário.
Conforme explica o doutor, como sintomas intrínsecos aos cistos há apenas distensão abdominal e dor. No entanto, pelo fato de a DRP levar a doença renal crônica (DRC), os demais sinais clínicos se relacionam a insuficiência dos rins.
“Devido a isso, é possível notar hiporexia, anorexia, emaciação, vômitos, poliuria e polidipsia. Já no exame físico os médicos-veterinários podem constatar desidratação, baixo escore corporal, mucosas pálidas e na palpação os rins estão maiores e irregulares”.
Outro ponto importante é que os sinais clínicos apenas se manifestam quando os cistos estão grandes em tamanho e / ou número. Nessa situação acabam comprometendo o parênquima renal e prejudicando o funcionamento dos rins.