Na Medicina Felina muitas doenças possuem sinais clínicos parecidos, que requerem investigação minuciosa para um diagnóstico assertivo. Dois exemplos disso são a Doença Inflamatória Intestinal (DII) e o Linfoma de baixo grau.
Para entender um pouco mais sobre elas conversamos com a médica-veterinária pós-graduada em Clínica Médica de Felinos e sócia-proprietária do My Cat consultório veterinário exclusivo para gatos, Nayara Cristina de Oliveira Fazolato.
De acordo com a profissional, tanto o Linfoma de baixo grau, quanto a Doença Intestinal Inflamatória, podem ter a mesma sintomatologia e alterações em exames complementares.
Devido a isso, é preciso na prática clínica diferenciar as duas enfermidades para proporcionar o tratamento adequado ao paciente.
O que é doença intestinal inflamatória em gatos?
Nayara explica que a DII é uma inflamação no intestino causada pelo infiltrado de células inflamatórias, na maioria das vezes, em intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo), sendo os linfócitos o tipo celular mais comum encontrado.
“A etiologia da doença ainda é desconhecida. Existem teorias que relatam a sua ocorrência devido a intolerância a proteína da dieta, reatividade ao próprio microbioma intestinal e também parasitose como gatilho inicial inflamatório”, afirma.
Segundo a médica-veterinária, a Doença Inflamatória Intestinal não possui predisposição racial e, embora possa ocorrer em gatos jovens, é mais frequente em animais de meia idade a idosos.
“A manifestação clínica mais comum é o vômito, que ocorre na maioria dos pacientes, podendo ter como conteúdo tricobezoar, ração mal digerida ou somente suco gástrico. Também é possível observar outros sinais, como anorexia, polifagia, náusea, prostração, diarreia, perda de peso e sensibilidade abdominal”, comenta.
E o Linfoma de baixo grau?
Conforme cita Fazolato, o Linfoma de baixo grau consiste em um infiltrado de linfócitos mutados, geralmente, na camada mucosa do intestino.
“Estudos recentes apontam que a enfermidade é uma evolução da Doença Intestinal Inflamatória. Acredita-se que ela começou com a infiltração de linfócitos benignos, houve uma mutação com possível falha na apoptose (morte celular programada), que gerou células filhas com as mesmas características de mutação e fez com que se tornasse o Linfoma de baixo grau”, pontua.
Por conta dessa característica, os sintomas das doenças são muito similares, não existindo um sinal indicativo que aponte para uma ou outra.
Na prática, como diferenciar as enfermidades?
Devido as similaridades, para chegar a um diagnóstico é preciso realizar alguns exames. A profissional esclarece que um deles é a histopatologia, indicada para avaliação do tipo celular infiltrado.
“Se de fato houver infiltrado linfocítico deve-se realizar também a imunohistoquímica para colocar marcadores que identificarão se aquela população celular é heterogênea, apontando para Doença Inflamatória Intestinal, ou homogênea, que condiz com Linfoma de baixo grau”, informa.
Além disso, Nayara alerta os veterinários quanto a importância de sempre perguntar aos responsáveis pelos pacientes sobre a presença de êmese.
“Caso esse sintoma exista, o exame de triagem mais importante é a ultrassonografia abdominal. Outro ponto importante é a realização do exame coproparasitológico para investigação de parasitas gastrointestinais. Caso sejam encontrados, deve-se tratar e acompanhar”, exemplifica.
Por outro lado, a profissional aponta que se o exame coproparasitológico for negativo pode-se suspeitar de alergia alimentar e utilizar dieta hidrolisada (hipoalergênica).
“Se mesmo seguindo à risca o uso exclusivo da dieta hipoalergênica o gato ainda apresentar manifestacões clínicas e alterações em exame ultrassonografico, a biópsia intestinal com imunohistoquimica pode ser indicada para diagnóstico entre DII ou linfoma de baixo grau”, pontua.
Ela ainda complementa dizendo que somente com esses exames é possível diferenciar uma doença da outra e enquanto não há um resultado a terminologia correta para a condição é enteropatia crônica.
Tratamento envolve diferentes abordagens
Existem pontos do tratamento das duas doenças que são iguais, mas outros são diferentes. Segundo a médica-veterinária, ambas as enfermidades podem necessitar de suplementação de vitamina B12, probióticos e prebióticos devido a disbiose intestinal.
“Os antieméticos são indicados em casos de náusea e/ou êmese, assim como as pastas lubrificantes de trato gastrointestinal para evitar acúmulo de pelos devido a hipomotibilidade geralmente associada ao quadro. Além disso, nas duas doenças pode ser indicada a troca de dieta para uma com maior digestibilidade”, esclarece.
Por outro lado, Nayara explica que, na maioria das vezes, nos casos de Doença Intestinal Inflamatória somente a prednisolona é capaz de controlar a inflamação, sendo o objetivo do tratamento tentar encontrar a menor dose eficaz ou até mesmo suspender o medicamento.
“Já nos casos de linfoma de baixo grau, a indicação é a prednisolona três vezes na semana intercalada com o quimioterápico Clorambucil também nessa frequência. Em casos controlados, tenta-se a retirada primeiro da prednisolona e, se houver remissão e acompanhamento constante, retira-se também o clorambucil”, finaliza.
FAQ sobre Doença Inflamatória Intestinal e Linfoma de baixo grau em gatos
Quais os sinais clínicos mais comuns das duas doenças?
Dentre as manifestações clínicas das enfermidades estão vômito, anorexia, polifagia, náusea, prostração, diarreia, perda de peso e sensibilidade abdominal.
Quais exames devem ser feitos para diferenciar as enfermidades?
Alguns exames são aliados para diagnosticar a Doença Inflamatória Intestinal e o Linfoma de baixo grau. São eles: histopatologia, se houver infiltrado linfocítico, imunohistoquímica, ultrassonografia abdominal e coproparasitológico.
Como é o tratamento das doenças?
O tratamento das doenças pode envolver o uso de probióticos, prebióticos, medicações para náusea, uso de prednisonola e, citando especificamente o Linfoma de baixo grau, o quimioterápico clorambucil.
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