Com a crescente busca por investimentos livres de Imposto de Renda (IR), como debêntures incentivadas, os chamados “spreads” – a diferença entre o rendimento pago por esses papéis e o título público equivalente – continuam a apresentar queda. De acordo com o Itaú BBA, os spreads dos títulos incentivados caíram 9,1 pontos-base na semana passada, revertendo a alta da semana anterior.
Isso significa que os investidores estão aceitando rendimentos menores para ter acesso a papéis que oferecem vantagens fiscais, como é o caso das debêntures incentivadas, geralmente ligadas a projetos de infraestrutura. A procura aumentou tanto que, na semana de 23 a 27 de junho, esses papéis movimentaram em média R$ 751 milhões por dia, quase o dobro do volume das debêntures tradicionais, que ficaram em R$ 403 milhões.
Segundo o BBA, o movimento está ligado a um cenário internacional mais favorável e a uma certa instabilidade no mercado local, com foco no risco fiscal. Segue parada no Congresso a Medida Provisória (MP) do governo que propõe alíquotas de 5% de IR sobre aplicações financeiras até então isentas, como é o caso de títulos privados incentivados. Se ela passar, apenas títulos emitidos em 2025 seguirão com rendimentos isentos de IR.

Ainda não se sabe o destino da MP, especialmente diante do embate recente entre governo e Congresso, mas o presidente da Câmara, Hugo Motta, já sinalizou que a matéria não andará na Casa pelo menos até agosto.
Com isso, investidores buscam ativos mais vantajosos do ponto de vista tributário, o que pressiona para baixo os spreads das debêntures incentivadas, principalmente entre papeis com classificações de risco AAA. Na prática, papéis isentos de IR podem render um pouco menos do que antes, justamente por estarem sendo muito procurados. Ainda assim, eles continuam atrativos por evitar a mordida do Leão.
O relatório também aponta que, além das debêntures, houve alta movimentação no mercado de CRIs e CRAs, instrumentos ligados ao setor imobiliário e ao agronegócio, que também podem oferecer isenção de IR dependendo da estrutura da emissão.