A repetição da mensagem foi a estratégia dotada pelo Copom para reforçar a necessidade de manter a Selic no atual patamar de 15% por muito tempo, destacam os economistas. Por cinco vezes, a ata da reunião do Comitê de Política Monetária, divulgada hoje, citou que a política contracionista de juros será mantida por um “período bastante prolongado”. Com isso, os especialistas esperam uma janela para início de cortes na taxa apenas para 2026.
A análise distribuída pela XP nesta manhã destaca que o Comitê argumentou que a atividade econômica e a inflação estão moderando, mas ainda estão em níveis desafiadores, e que o ambiente externo “permanece adverso”. “No plano interno, a ata trouxe diversos elementos para argumentar que a atividade econômica está desacelerando gradativamente, de um patamar ainda aquecido. E a inflação está melhorando, mas permanece acima da meta”, diz o texto.
Para a XP, isso sugere que o Comitê acredita que sua estratégia de um “ciclo de aumento rápido e firme das taxas de juros” está funcionando. E que agora é tempo de “observar os efeitos do ciclo já implementado”.

A análise lembra que a mensagem de que a política monetária deve permanecer restritiva por um “período muito prolongado” foi uma sinalização repetida cinco vezes ao longo da ata. Para a XP, a intenção disso foi mais para evitar que os participantes do mercado esperassem cortes nas taxas do que para sugerir que novos aumentos são possíveis.
“Acreditamos que a sinalização de hoje é consistente com nosso cenário de que a taxa Selic permanecerá em 15,00% até — pelo menos — o 2º trimestre de 2026. Mais à frente, alguma flexibilização monetária parece provável no próximo ano. Vemos um ciclo de flexibilização de 250 pbs, a partir de abril”, estima a XP, que pondera ainda ser necessário ver como a economia global evolui e, mais importante, as perspectivas para a política econômica doméstica em 2027, “que permanece incerta devido às eleições”.
Na opinião de Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, a ata do Copom manteve o tom mais duro do comunicado da decisão da semana passada. “A desancoragem das expectativas ainda é o principal fator de desconforto e, na avaliação do Copom, tende a retardar o processo de convergência de inflação para a meta”, alerta.
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Ele cita ainda que o risco fiscal também foi mencionado, tanto na interferência nos canais de crédito, com a maior expansão do crédito direcionado vs. o crédito livre, mas também no seu fator pro-cíclico de estímulo à demanda, além do elevado prêmio de juros devido à incerteza.
Sobre o que está por vir em termos de política monetária, Rafaela lembra que, nos dois últimos ciclos de aperto monetário, a taxa Selic permaneceu no pico por períodos longos, 15 meses entre 2015 e 2016 e 12 meses entre 2022 e 2023.
“No entanto, nesse ciclo, a política monetária está restritiva desde meados de 2022. Vamos para o quarto ano de taxa de juros acima do patamar neutro, sendo que o desvio atual da inflação para a meta não é tão significativo como havia sido nos ciclos anteriores, quando o IPCA chegou ao pico de 10,7% em janeiro de 2016 e 12,2% em abril de 2022. Estimamos um pico de inflação próximo de 5,5% em 2025, já apontando desaceleração para abaixo de 5% ainda esse ano”, diz.
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Na avaliação do Inter, as discussões sobre a redução no nível de restrição monetária podem se iniciar no final de 2025. “O principal risco para esse cenário é o orçamento fiscal de 2026. Caso o governo tenha um orçamento mais frouxo, por exemplo, com o aumento da isenção do IRPF sem a devida compensação e manutenção do ritmo de crescimento de gastos, a inflação pode seguir persistente e a Selic pode permanecer em 15% por um período mais longo”, afirma.
Expectativas desancoradas
Para Fabio Kanczuk, diretor de macroeconomia do ASA, a ata foi levemente “dove” (suave) e não deve causar movimentos significativos no mercado. “O comitê novamente afirmou que seu plano é manter os juros em patamar contracionista por período bastante prolongado devido a desancoragem das expectativas. Acreditamos que, a menos de uma mudança muito brusca de cenário, o Copom não alterará o patamar de juros, que permanecerá em 15% por várias reuniões”, prevê.
Já Luis Otávio Leal, economista chefe da G5 Partners, diz que, na essência, o recado do BC continua o mesmo: a inflação continua incompatível com a meta, as expectativas continuam desancoradas e a atividade econômica continua apresentando dinamismo, apesar de alguma desaceleração na margem.
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“Como parar de subir os juros em um cenário como este? Confiando nas defasagens da política monetária. Como a própria Ata diz, o ajuste ‘foi particularmente rápido e bastante firme’, agora esperar que faça efeito”, comenta.
Assim, Leal afirma que as linhas gerais do comunicado da reunião foram mantidas, de esperar para ver o que acontece, subir os juros se necessário, mas com a estratégia principal sendo a de manter os juros em 15,00% a.a. “por um período prolongado de tempo”.
“Inclusive essa expressão foi usada nada menos que 5 vezes nos 24 parágrafos da Ata. Por isso mantemos a nossa expectativa de que os juros comecem a ser reduzidos na 1ª reunião de 2026, fechando o ano que vem em 12,50% a.a.”, estima.
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O Itaú comenta em sua análise que a recorrência da redação de que a política monetária deve permanecer em níveis restritivos por “um período bastante longo” sugere que as autoridades podem estar tentando estabelecer um mínimo de reuniões de política antes de começar a flexibilizar.
O banco lembra que nos episódios recentes (2015 e 2022) em que a redação foi “período suficientemente longo”, o BC manteve a taxa por 9 e 7 reuniões, respectivamente. “Esperamos que a taxa Selic permaneça em 15% a.a. até o final do ano, com o primeiro movimento de flexibilização apenas em 2026”, prevê o Itaú..
Já o economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos, escreve em sua análise que a janela para corte da Selic pode se abrir provisoriamente no final de 2025, uma vez que, nesse momento, o horizonte relevante para a política monetária se estenderá até o 2º trimestre de 2027. “Mas o Copom parece pronto para ser muito paciente e se manter resolutamente até possivelmente o 2º trimestre de 2026, dada a clara ênfase nas expectativas de inflação desancoradas.”