A atenção à saúde de cães e gatos idosos têm revelado um aumento significativo de casos de doença renal crônica (DRC) e cistite.
Segundo o médico-veterinário e diretor da Sociedade de Geriatria Veterinária (SBGV), José Manuel Mouriño, esse cenário está ligado ao aumento da longevidade dos animais e à maior identificação de enfermidades antes subdiagnosticadas.
“A medicina de cães e gatos geriátricos mudou muito na última década. Independentemente do aumento da expectativa de vida, a evolução no entendimento da fisiopatogenia e nos tratamentos foi exponencial.
A doença renal crônica pode ter várias causas, mas a perda funcional dos néfrons está diretamente relacionada ao tempo de uso e desgaste do órgão”, explica Mouriño.
Enquanto a DRC está associada ao envelhecimento, a cistite em gatos, especialmente a idiopática, apresenta fatores genéticos e de estresse que podem perdurar ao longo da vida, mesmo em animais idosos.
“A faixa etária de acometimento da cistite idiopática aponta para felinos adultos jovens, mas muitos mantêm a condição na geriatria. Em cães, as cistites bacterianas, cálculos e problemas congênitos são mais comuns”, detalha.
O envelhecimento impacta diretamente a função renal e do trato urinário. Gatos domiciliados, por exemplo, consomem pouca água, apresentam sedentarismo e excesso de peso, fatores que aceleram a deterioração renal.
Mouriño destaca ainda o papel da inflamação crônica associada à idade, conhecida como inflammaging, que provoca dano oxidativo e prejuízo ao DNA celular, contribuindo para a progressão de DRC e cistite.
Os sinais clínicos exigem atenção. Na DRC, poliúria, polidipsia, alterações na cor da urina, apatia, vômitos e distúrbios gastrointestinais podem indicar comprometimento renal.
Já na cistite, polaciúria e hematúria são sinais de alerta.
“A medicina preventiva bem-feita consegue detectar alterações antes mesmo de sinais perceptíveis”, reforça Mouriño.
O diagnóstico precoce depende de exames regulares. Entre os indispensáveis estão ultrassonografia abdominal, urina tipo I, relação proteína/creatinina urinárias, cultura e antibiograma, pressão arterial, hemograma, ureia, creatinina e SDMA.

“As visitas periódicas com exames frequentes são os melhores métodos preditivos”, observa.
O manejo nutricional também desempenha papel central. Dietas formuladas com proteína hidrolisada, oligopeptídeos marinhos, antioxidantes e ácidos graxos ômega-3 ajudam a reduzir a deterioração renal.
Suplementos como quitosano e quelantes de fósforo colaboram no estágio avançado da DRC. Para as cistites, a modulação ambiental e nutricional, controle do estresse e o uso de fitoterápicos e antioxidantes podem reduzir recorrências e inflamações.
Infecções urinárias recorrentes podem agravar quadros de DRC, especialmente em pacientes com múltiplas comorbidades.
“Problemas de coluna, obesidade, cálculos urinários, alterações endócrinas e o uso excessivo de antibióticos são fatores que favorecem infecções persistentes e pielonefrites”, alerta Mouriño. Diferenciar causas primárias de secundárias exige boa anamnese, exame clínico detalhado e investigação laboratorial.
A medicina preventiva é peça-chave para reduzir a incidência e gravidade dessas condições. Programas de acompanhamento geriátrico permitem avaliar com precisão o estágio da doença e implementar intervenções eficazes, prolongando a qualidade de vida do animal.
Quanto ao futuro, Mouriño se mostra otimista: “Terapias gênicas, identificação de fatores genéticos e avanços em nutrição e suplementação prometem ampliar ainda mais a saúde e o bem-estar dos cães e gatos. O desafio agora é integrar ciência, manejo clínico e cuidados preventivos de forma prática e eficiente.”


