“Já ouvi falar de células-tronco, mas nunca vi”. A frase, ainda recorrente entre clínicos-veterinários, começa a perder força diante da crescente adesão da terapia celular em hospitais, universidades e eventos da área. Casos de recuperação significativa em cães e gatos mostram que a biotecnologia deixou o campo experimental para se consolidar como ferramenta terapêutica complementar.
A utilização de células-tronco em animais de companhia já está regulamentada no Brasil há mais de uma década, mas somente nos últimos anos começou a ganhar maior visibilidade e aplicação clínica.
A parceria entre empresas do setor veterinário, como a Biocef e a Vetnil, tem acelerado a difusão do conhecimento e a oferta do tratamento em hospitais e clínicas especializadas.
Segundo Isabelle Cabral, médica-veterinária do hospital Animaniacs e responsável pela área de terapia celular em parceria com a Biocef, a prática consiste em utilizar células com potencial regenerativo para auxiliar na recuperação de tecidos e órgãos.
“As células-tronco já existem no organismo, mas, em determinadas doenças, a quantidade disponível não é suficiente para reparar os danos. A terapia consiste em suplementar esse processo com células de qualidade controlada”, explica.
O procedimento pode ser feito por via endovenosa, intra-articular ou epidural, dependendo da afecção apresentada. Os principais beneficiados, de acordo com a especialista, são cães com doenças articulares e hematológicas, e gatos com maior prevalência de doenças renais crônicas e alterações hematológicas.
“Em cães, a maior procura é para artrose e problemas de coluna; em gatos, vemos muito casos renais e de aplasia de medula. A resposta, na maioria das vezes, é bastante positiva e impacta diretamente na qualidade de vida”, afirma Isabelle.
Entre os relatos clínicos que reforçam a eficácia da terapia, está o de um cão da raça golden retriever, com displasia e dores intensas. O tutor já havia recebido indicação cirúrgica, mas optou por tentar a terapia celular associada à fisioterapia.
“O animal não conseguia sustentar os membros pélvicos. Após as aplicações e sessões de reabilitação, voltou a andar sem dor. Isso já faz mais de um ano e ele segue estável, sem necessidade de nova intervenção”, relata a veterinária.

