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O papel da inteligência artificial na prática veterinária moderna

A inteligência artificial (IA) já é uma realidade e ultrapassou as barreiras do entretenimento, adentrando na área da saúde. Esse movimento também está sendo visto na Medicina Veterinária. Contudo, mesmo essa sendo uma ferramenta poderosa, ela possui aspectos positivos e negativos, que devem ser considerados na prática clínica. Segundo Fernando Rodrigo Zacchi, médico-veterinário e gerente […]

A inteligência artificial (IA) já é uma realidade e ultrapassou as barreiras do entretenimento, adentrando na área da saúde. Esse movimento também está sendo visto na Medicina Veterinária.

Contudo, mesmo essa sendo uma ferramenta poderosa, ela possui aspectos positivos e negativos, que devem ser considerados na prática clínica.

Segundo Fernando Rodrigo Zacchi, médico-veterinário e gerente técnico do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), ainda não existe nenhuma lei ou regulamentação específica exclusivamente voltada para o uso da inteligência artificial por médicos-veterinários no Brasil.

“O CFMV tem acompanhado atentamente o desenvolvimento e a aplicação dessas tecnologias. Nossas normas e o Código de Ética Profissional já estabelecem princípios gerais que regem a conduta do médico-veterinário, a responsabilidade profissional e a qualidade do atendimento. Qualquer nova ferramenta, incluindo a IA, deve ser utilizada sempre em conformidade com esses preceitos, garantindo a ética, a segurança e a responsabilidade”, explica.

Além disso, por mais que não sejam encontrados dados oficiais que quantifiquem a adesão ou expansão exata das IAs no Brasil, de acordo com ele, é perceptível um crescente interesse e a adoção pontual de ferramentas baseadas em IA, especialmente nas áreas de diagnóstico por imagem, análise de dados clínicos e, em menor escala, em gestão de clínicas e na pesquisa.

“O setor de tecnologia em saúde animal está em constante evolução e vemos essa movimentação no dia a dia da profissão”, pontua.

Benefícios e pontos de atenção

As IAs contam com uma série de vantagens, mas também é preciso se atentar aos alertas para que a inteligência artificial não ultrapasse as habilidades humanas.

Fernando comenta que, no âmbito positivo, as IAs podem acelerar e aprimorar diagnósticos, identificando padrões que talvez não sejam visíveis a olho nu ou analisando grandes volumes de dados para prever tendências de saúde.

Elas também podem auxiliar na gestão de clínicas, otimizando agendamentos, estoque e organização de prontuários. Funções essas que permitem aos profissionais focarem mais no atendimento ao paciente e menos na gestão.  

“A inteligência artificial pode, ainda, acelerar a descoberta de novos tratamentos, medicamentos e vacinas, processando informações científicas em escala que seria impossível para humanos. Outra vantagem é a de personalizar o aprendizado, oferecendo recursos de atualização profissional de forma mais eficiente”, cita.

Por outro lado, o gerente técnico ressalta que existe o risco de uma dependência excessiva da tecnologia, diminuindo o raciocínio crítico e a percepção clínica do médico-veterinário, que é insubstituível.

“Profissionais podem ser tentados a confiar cegamente nas sugestões da IA sem entender a base científica ou os limites da ferramenta, comprometendo a qualidade do serviço e induzindo ao erro. Além disso, a empatia e a comunicação com os clientes não podem ser replicadas por máquinas”, comenta.

Ainda segundo o profissional, também há a necessidade de garantir a privacidade e a segurança dos dados dos animais e de seus responsáveis e deve-se tomar cuidado com informações enviesadas oferecidas pela tecnologia, que levem a diagnósticos incorretos para determinadas raças ou condições, por exemplo.

A inteligência artificial pode auxiliar os médicos-veterinários na rotina clínica (Foto: Reprodução)

Atenção, médicos-veterinários

Zacchi aponta para a importância de os médicos-veterinários adotarem uma postura cautelosa e crítica ao utilizar ferramentas de inteligência artificial.

Dessa forma, para ele os principais cuidados são:

  • Manter o julgamento clínico como prioridade: a IA é uma ferramenta de apoio, não de substituição. A decisão final sobre o diagnóstico e o tratamento deve ser sempre do profissional e baseada em seu conhecimento, experiência e na avaliação completa do paciente e do contexto.
  • Entender o funcionamento da ferramenta: não basta apenas usar a tecnologia, é preciso compreender os seus princípios, limitações e a fonte dos dados que alimentam a IA. Isso permite avaliar a confiabilidade e aplicabilidade das sugestões geradas.
  • Verificar e validar as informações: as informações ou diagnósticos sugeridos pela inteligência artificial devem ser sempre confirmados por outros meios diagnósticos e pela análise clínica do profissional.
  • Respeitar a ética e a privacidade: o uso de dados deve seguir rigorosamente as normas de privacidade e proteção, garantindo a confidencialidade das informações dos pacientes e seus proprietários.

Inteligência artificial na prática

Ciente das tendências do mercado e a partir de uma experiência pessoal, o administrador de empresas Renato Rocha fundou a InIA.pet.

“A ideia nasceu de uma experiência pessoal. Em novembro de 2024 minha cadela Pandora, uma pitbull de 14 anos, foi diagnosticada com neoplasia pulmonar. Durante esse período conversei muito com um veterinário que já era amigo da família e com o médico-veterinário que a atendia. Eu e meus sócios já estávamos à frente de uma startup de IA voltada para centros cirúrgicos humanos e acompanhada pelo Hospital Albert Einstein. Percebemos que o setor veterinário também enfrentava muitos desafios e que havia um enorme potencial para aplicar nossa tecnologia nesse mercado”, comenta.

Com menos de um ano de operação a empresa já está presente em mais de 350 estabelecimentos veterinários.

“Um dos motivos para esse exponente crescimento está relacionado ao fato de sermos a única IA de transcrição de consultas que nasceu, exclusivamente, para veterinária. Todos os textos gerados pela plataforma foram validados pela Legal Vet, estando em conformidade com as normas e regulamentos do Conselho Federal de Medicina Veterinária e com os CRMVs”, relata.

Com isso, segundo o CEO, a InIA.pet é uma plataforma, que transforma a conversa entre veterinário e tutor em documentos prontos para o prontuário do paciente, reduzindo drasticamente o tempo gasto com a digitação.

“Também auxilia em rotinas de internação e exames de imagem, facilitando passagens de plantão, elaboração de laudos e registros clínicos com mais agilidade e segurança”, cita.

Para minimizar erros, a inteligência artificial foi treinada com conteúdo técnico específico da Medicina Veterinária.

“Pode-se pensar nela como uma “super auxiliar”, que entende profundamente da área. Ela escuta as consultas, estrutura os dados e transcreve em documentos com linguagem técnica veterinária. Na internação, ajuda no registro de plantões e visitas, promovendo segurança e eficiência em cada etapa”, pontua.

Além disso, de acordo com Renato, estima-se que os médicos-veterinários gastam até 40% do tempo com tarefas administrativas. “A InIA.pet reduz esse esforço — em alguns casos em até 92% — liberando o profissional para focar no atendimento ao paciente e ao tutor, conclui.

A ferramenta de IA transcreve as consultas para o prontuário, poupando o esforço dos médicos-veterinários em digitar as informações (Foto: Reprodução)

Cautela é palavra de ordem

O gerente técnico do CFMV esclarece que o Conselho Federal de Medicina Veterinária tem um posicionamento de abertura com cautela em relação à utilização da Inteligência Artificial.

“Reconhecemos o potencial transformador da IA para aprimorar a prática da Medicina Veterinária, tornando-a mais precisa, eficiente e capaz de oferecer cuidados de ponta aos animais. Entendemos que a tecnologia veio para somar, como uma ferramenta valiosa no arsenal do profissional. No entanto, em alinhamento com a defesa da profissão, devemos garantir que essa inovação seja utilizada de forma ética, segura e responsável”, informa.

Dessa forma, o conselho é que a inteligência artificial seja tida como um suporte, não um substituto do julgamento clínico.

“O uso da IA deve estar sempre alinhado ao nosso Código de Ética, protegendo a privacidade e o bem-estar animal. Em resumo, o CFMV vê a IA como uma aliada estratégica para o futuro da Medicina Veterinária, desde que seu uso seja consciente, criterioso e sempre a serviço da excelência profissional e da saúde animal e pública”, finaliza.

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